A Quinta dos Lagares é uma propriedade localizada na margem esquerda do rio Pinhão, na freguesia de Vale de Mendiz. Tem 70 ha, dos quais 27 ha são de vinha, 12 ha de olival e o resto de mata onde predominam as espécies mediterrâneas, nomeadamente sobreiros, carrascos e medronheiros.
História
Século XVIII
A qualidade dos vinhos produzidos na terra da Quinta dos Lagares era reconhecida já antes da Demarcação Pombalina de 1758, a qual fez colocar, em local perto da actual casa principal da Quinta, o Marco Pombalino que tem o nº 86 do levantamento feito pelo Museu do Douro.
A acta da Demarcação Pombalina refere, para o local:
“…levando ainda a demarcação o mesmo rumo, vay dar a huma Frága que está para a parte do Poente do Lagar de Domingos de Azevedo, de Favayos, pegado à caza do mesmo lagar, a qual Frága tem humas cruzes na mesma pedra abertas ao picão, por ser deviza entre os termos de Celleyrós e Favayos, e hai se pôs hum marco á custa de Jozé Pinto de Queyrós, ou de sua May Donna Maria Jacinta.
E deste marco vay dar à fonte chamada do Zabodês…” in A. Moreira da Fonseca, As Demarcações Pombalinas, ed. IVP“
Século XIX
A casa principal e a capela foram construídas em 1815, data que está gravada na entrada da mina de água que alimentava as casas.
No rés-do-chão da casa principal está a instalação de vinificação composta por cinco lagares e seus acessórios, toda construída em granito. Daí o nome de Quinta dos Lagares.
Na altura em que a casa foi construída, a Quinta estaria ainda na posse da mesma Família Queirós mencionada na acta da demarcação, uma vez que ela foi vendida, nos últimos anos do século XIX, pela viúva de Bento de Queirós a Guilherme Alexandre da Silveira.
No rés-do-chão da casa principal está a instalação de vinificação. A cerca de 1,8 m acima do piso estão instalados cinco lagares de granito em cujos tampos se apoiam sete colunas, também de granito e de trabalho simples mas harmonioso, que sustentam, sensivelmente a meio do seu vão, as vigas de suporte do soalho do 1º andar. Com as capacidades de 15, 14, 7, 12 e 9 pipas, esses lagares sangram para quatro lagaretas, também de granito; as quais por sua vez debitam para um canal, ainda de granito, que, percorrendo o edifício do Lagar até ao do Armazém, que lhe é adjacente, transporta o vinho até um sistema de distribuição a cada uma das vasilhas.
Este sistema, hoje desactivado, em que o vinho escoava por gravidade, com um mínimo manuseamento, desde cada lagar até cada vasilha de madeira de armazenamento, era por certo considerado, na altura em que foi construído suficientemente moderno e raro na Região para que a propriedade viesse a ser conhecida como a Quinta dos Lagares.
Século XX
A Quinta dos Lagares foi comprada por Narciso Pedro da Fonseca e Silva em 1920. Nos seus cerca de 60 ha, a Quinta tinha apenas uns 6 milheiros de vinha, algo mais de 4.000 oliveiras e a restante área ocupada por floresta – essencialmente sobreiros, carrascos e pinheiros – e algum mato.
Quando Narciso Pedro faleceu, em 1930, a Quinta, mantinha toda a área de olival e de sobreiral, mas já dispunha de um total de vinhas que ultrapassava os 40 milheiros de pés. Sucedeu-lhe um dos seus filhos, Narciso Lencart da Fonseca e Silva.
Em 1944 foram plantados cerca de 15 milheiros de vides estabelecidos segundo a norma de época, ao compasso de 1,5 m2 e com a mistura das melhores castas de Região. Esta vinha ainda hoje está em produção.
Narciso Lencart da Fonseca e Silva, que era Avô paterno de Pedro B. Lencart, morreu em 1992. Seguiu-se um intervalo de alguma indefinição na gestão da Quinta que só estabilizou em 2000, ano em que se iniciou um novo período de reconversão de vinhas.
Narciso Pedro comprou a Quinta dos Lagares em 1920 à viúva de Guilherme Adriano da Silveira.
Narciso Pedro era um homem da região e tinha também propriedades em Covas do Douro e em Gontelho produzindo vinho do Porto. Era já um produtor com qualidade suficientemente boa para vendê-lo à firma Silva & Cosens –, firma para a qual, cerca de 8 anos antes, tinha entrado a Família Symington.
No ano da aquisição Narciso Pedro iniciou a recuperação da única vinha da Quinta seguindo, nos anos seguintes, com a plantação de novas vinhas a par da reparação e beneficiação das edificações, bastante degradadas, do aumento da capacidade de armazenamento de vinho e da reparação das poucas vasilhas já existentes. Em 1930, ano da sua morte, a Quinta, mantendo toda a área de olival e de sobreiral, dispunha já de um total que ultrapassava os 40 milheiros de pés.
Sucedeu-lhe um dos seus filhos, Narciso Lencart da Fonseca e Silva. À crise de 1929 e às difíceis circunstâncias dela derivadas e que se arrastaram até ao início da Guerra em 1939, seguiram-se os anos do conflito em que a procura de vinhos era quase nula. Embora Narciso sempre se tenha preocupado em manter a qualidade dos vinhos produzidos, os preços do mercado não permitiram senão a manutenção do bom estado da propriedade. Foi nessa época que se começaram a aproveitar os excedentes de produção de uvas, para além do benefício que se podia prever que o mercado absorveria em cada ano, para elaborar vinhos tranquilos o que, em conjunto com o azeite de muito boa qualidade que sempre se produziu e, ainda, a produção de cortiça, ajudaram, como ainda hoje, ao rendimento do conjunto.
Em 1944, com o fim da Guerra em perspectiva, já foi possível investir na plantação de cerca de 15 milheiros de vides estabelecidos segundo a norma de época, ao compasso de 1,5 m2 e com a mistura das melhores castas de Região. Esta vinha ainda hoje está em produção
Em 1952 foi comprada a Quinta do Espigão, uma pequena propriedade encravada na Quinta dos Lagares, com cerca de 10 ha de área total, tendo cerca de 100 oliveiras e 1 ha de vinha em muito mau estado que começou a ser recuperada nesse mesmo ano.
No fim da década de 50 foi plantada ainda uma pequena vinha com pouco mais de 0,6 ha, ainda com as características tradicionais.
Desde 1920 até 1963, inclusive, o vinho do Porto era feito na propriedade e aí armazenado até ser transportado, no início da Primavera, para a um dos armazéns da Família Symington a quem era vendido – tal como era já um hábito desde os últimos anos do século XIX, com o Trisavô Arnaldo Narciso, com a produção de vinho das suas terras de Gontelhe e Covas do Douro e apenas suspenso durante a Segunda Guerra.
A partir de 1963 a relação comercial manteve-se mas as produções de benefício são vendidas em uvas, mantendo-se a produção de vinhos tranquilos nos anos em que isso é favorável e, em alguns anos, vinhos generosos ao abrigo do estatuto de “garrafeira” para consumo próprio.
Em 1972, poucos anos após os primeiros ensaios feitos nos últimos anos de década de 60 pelo Centro de Estudos Vitivinícolas do Douro, de estabelecimento de vinhas mecanizáveis, foi plantada a primeira vinha mecanizável, com 4 ha, em patamares; e em 1974 foram plantados mais 3,5 ha também em patamares. Em qualquer destas vinhas as castas tradicionais continuaram misturadas.
Em 1985, ao abrigo do PDRITM, plantou-se uma área de 10 ha, em patamares, ainda com as melhores castas da Região em mistura.